domingo, 31 de março de 2013

SEMANA 18 - A Páscoa

Depois de contar sobre o parto, eu me lembrei da minha “chegada”.

O que mais me impressionou ao sair da barriga da minha mãe foi a dúvida: eu era um pedaço da minha mãe ou uma outra pessoa??

Quero dizer, enquanto eu estava lá dentro da barriga dela, eu achava que nós éramos a mesma pessoa. Depois que eu nasci, todo mundo nos tratava como se fôssemos duas pessoas. É isso mesmo?

Eu levei um susto danado e fiquei confusa: como pode acontecer de sermos a mesma pessoa – quando eu estava dentro dela – e passar a ser outra pessoa tão de repente? Será que foi por isso que o meu mundo continuou a ser o corpo da minha mãe?

Eu demorei para “enxergar” a nossa casa, as outras pessoas, o mundo e tudo o mais dessa vida que eu não conhecia. No início, realmente tudo o que me importava era a minha mãe. Era como se somente ela fosse a minha casa.

Agora, percebo que a minha casa não é mais só a minha mãe....isso foi bom, porque era estranho sentir que eu não tinha casa quando ela precisava sair de perto de mim.

E hoje, essa “nova” casa está especialmente alegre e divertida. Tem um monte de gente da família e todos seguram um negócio redondo, coberto com papel laminado e dizem que são um presente pra mim!! Minha mãe me explicou que toda a família se reuniu porque é Páscoa.

Ela está com pressa, arrumando a casa, e acho que foi por isso que ela não quis me explicar o que é a Páscoa. A única coisa que disse – na hora em que estava saindo – foi que porque era Páscoa ela iria à missa, e que um outro dia, quando eu fosse maior, eu iria com ela.

Então, eu concluí que na Páscoa acontecem três coisas:
1.     A família se reúne.
2.     As crianças ganham bolas enroladas em papel laminado.
3.      A mamãe vai à missa.

Além das bolas, eu ganhei uma coelha com vestido de flores e cesta com ovinhos. A coelha é bonita e está sorrindo!

Mas se o ovo vem da galinha, por que eu ganhei uma coelha?


segunda-feira, 25 de março de 2013

SEMANA 17 - O Papa e o parto

Essa semana está todo mundo falando sobre um tal de novo PAPA. A televisão fala bem dele porque ele cuida dos pobres, é um homem simples e dispensou o carro a que tinha direito.

Minha mãe me explicou que PAPA é o líder da Igreja Católica. Católica é uma entre muitas religiões que existem no mundo. Pelo o que eu entendi, religião é como a gente vê a vida fora da Terra. Ou seja: a vida que os adultos não entendem.

Vou tentar explicar melhor: nós bebês não precisamos de religião porque nossa relação com Deus é muito próxima. Os adultos crescem, se esquecem de onde vêm e precisam se reconectar ao nosso mundo - e fazem isso através das religiões.

E não confundam: apesar de PAPA parecer PAPAI, não é a mesma coisa não. Aliás, é muito diferente. O PAPA não tem filhos. Ele é uma espécie de Pai para todos os da sua religião.

E não é que falando desse assunto da necessidade dos adultos de se reconectarem com o nosso mundo, lembrei do dia em que definitivamente saí dele?? Foi o dia do parto! Ainda não falei disso pra vocês, né? Pois bem, o negócio é o seguinte: Existem duas maneiras de nascer:

- maneira natural
- maneira feita pelos médicos

Minha mãe achava que nascer na primeira categoria é MUUUUITO melhor. Eu me lembro na gravidez: ela treinava as respirações, pensava sobre isso, falava sobre isso.

Acontece que eu estava com cordão umbilical enrolado no meu pescoço. Eu não sei por que isso aconteceu, mas sei que quando acontece a gente tem que se mexer o menos possível e nem pensar em virar de cabeça pra baixo! Isso eu lembro bem: é a parte de primeiros socorros para quando estamos dentro da barriga da mamãe.

A natureza é sábia: mesmo eu sendo um bebê, já sabia que o melhor a fazer era ficar quietinha, pois correria perigo se tentasse me virar.

E não é que a Mamãe seguiu seus instintos também! Um monte de gente falava pra ela: “Conversa com a tua bebê e pede para ela virar”. Ela sorria e agradecia o conselho. Depois dizia para o papai: “Se ela não está virando, deve ter os seus motivos.”

Pois bem: no começo ela ficou chateada, porque realmente queria que eu viesse pelo jeito natural. Mas depois, ela se conformou e entendeu que não é o tipo de parto que faz uma mãe melhor ou pior; definitivamente, não me trazer ao mundo pela maneira natural não a fez menos mãe!

sexta-feira, 15 de março de 2013

SEMANA 16 - Festa de adulto

Essa semana eu fui a uma festa! Nunca tinha ido. Eu estava no canguru do meu pai e dormi. Tinha muito barulho. Mas achei muito animado: era um monte de gente junta, conversando com copos na mão, que não paravam de virar para beber. Eles sentem muita sede!

Quer dizer: eu acho que eles sentem muita sede porque não param de segurar copo na mão.

Às vezes eles comem. Mas voltam a ter sede. Eu não entendi e minha mãe não explicou.

Depois, a família toda achou um absurdo terem me levado em uma festa com tanto SAMBA e tanta GENTE. Eu não entendi o problema. Com gente estou acostumada, vem sempre muita gente aqui em casa - inclusive quando quero ficar só com a minha mãe. E SAMBA é uma música alegre. Já ouvi música muito pior em casa. Não acho que SAMBA deva ser proibido para bebês.

A outra coisa é que agora descobri a voz. Quando tudo fica em silêncio eu gosto de experimentar e treinar a minha voz. Eu solto umas palavras, mas os adultos não entendem o que falo.

Por que será que a gente demora tanto para aprender a falar? Eu – e todos os bebês – sabemos entender o mundo dos pensamentos. Mas parece que os adultos têm dificuldade em entender a vida fora das palavras.

Eu acho que a gente demora pra aprender a falar porque deve ser proibido contar para as pessoas daqui como é o outro mundo. Por isso fiquei pensando: Será que a gente só aprende a falar quando esquece a nossa vida do outro mundo?



PRÓXIMA PUBLICAÇÃO: 22 de março

sexta-feira, 8 de março de 2013

SEMANA 15 - Eu choro menos agora!

   Definitivamente eu choro menos agora. Todos comentam muito sobre isso. Os amigos, os avós, todo mundo que vem aqui em casa fica feliz quando descobre que agora eu choro menos. E mais, dizem orgulhosos de já terem dito antes: “Viu só, eu não te avisei que depois do terceiro mês tudo melhorava?”

   Eu não imaginei que meu choro incomodasse tanta gente... é a minha maneira de falar... de expressar meu medo de ficar sozinha. Como agora eu já aprendi que minha mãe e meu pai estão sempre por perto, e que quando eles saem, eles sempre voltam, choro menos.
 

   Choro também quando estou estressada....
 

   Sobre o estresse: nenhum adulto acredita que podemos ficar “estressados”. Mas a gente fica estressado sim – principalmente quando se recebe estímulo demais.
 

   Minha mãe – apavorada com a minha suposta histeria – leu muito e acabou descobrindo que, em uma grande reunião, cheia de cientistas, chegaram à conclusão que esse choro pode ser chamado de “CAUSA OBSCURA, LONGO INFANTIL CHORO DE AGONIA”. E não falaram de cólica não! Será que finalmente os adultos estão nos entendendo?!

   Uma lista de tudo que eu gostaria que acontecesse nesses momentos de estresse:

- Mandassem todos os que não são MAMÃE E PAPAI embora.
- Não deixassem ninguém mais entrar.
- Me levassem para meu quarto ou um lugar tranquilo - mas não me deixassem sozinha.
- Me dessem de mamar.
- Me fizessem acreditar que sou amada e que não serei abandonada!



Próxima publicação: 15 de março