Agora que a gente sai mais para passear, mamãe me apresentou uma bolsa na qual eu posso ir dentro. Parece a bolsa de canguru. É uma maravilha porque a mamãe pode fazer várias coisas enquanto eu estou ali, feliz e quentinha – ou seja, apesar da mamãe poder se sentir livre, eu posso continuar a ser muuuito dependente dela. Foi assim também que ela passou a sair mais. Pra mim, é aconchegante e próximo.
Hoje, ao som do corpo da minha mãe (aquele igual ao que eu ouvia quando estava dentro da barriga dela), eu fui - no canguru - ao centro da cidade, fazer compras com minha mãe e meu pai.
Minha mãe me explicou que o centro é a parte da cidade onde estão os bancos, os museus e os homens que trabalham com terno e gravata. Terno e gravata é o uniforme de trabalho.
Mas eu não sei se entendi trabalho muito bem. Confesso que fiquei confusa com o que vi. Explico: lá de casa, eu pensava: os homens trabalham na rua, e as mulheres trabalham em casa, com seus bebês.
Mas hoje eu vi – no centro da cidade - um monte de mulher que trabalha na rua!
A minha mãe tentou explicar e foi aí que eu me preocupei... ela falou que ela também trabalha FORA DE CASA! Ela só parou de trabalhar quando eu nasci!
E o pior: um dia ela vai voltar a trabalhar!! E eu????
A minha mãe falou que trabalho é o que a pessoa produz. Se a minha mãe me “produziu”, eu sou o trabalho da minha mãe. Por que ela vai trocar um trabalho – que sou eu – por outro trabalho – que não sou eu???