sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CAPÍTULO 43 - O Casamento

A amiga da mamãe chegou em casa quando eu estava indo dormir. Eu chorei e não quis dormir, porque queria ficar com elas. Então, pra não me deixar triste, minha mãe deixou eu dormir no colo dela. Eu fingi que estava dormindo e fiquei ouvindo a conversa toda!

A amiga da mamãe veio contar que ia se separar do marido. Separar é quando a pessoa decide terminar o casamento.O duro pra entender essa conversa é que nem sei se já entendo o que é casamento. Parece que é quando alguém decide ficar com uma pessoa só, e não com várias outras. Esse é o casamento. Deve ser bem difícil escolher quem vai ser essa pessoa, porque tem um montão de gente nesse mundo. Eu fiquei com muitas dúvidas... Será que um homem também pode escolher ficar com um homem? E uma mulher também pode escolher ficar com uma mulher? E por que alguém decide ficar com uma pessoa só? Como escolhe essa pessoa ao invés de todas as outras?

Então me lembrei no nosso curso de preparação para vir para a Terra. Existe um sentimento que os adultos têm, chamado paixão. Quando você se apaixona, quer ficar com aquela pessoa o tempo inteiro, para sempre. Acho que é parecido com o que eu sinto pela mamãe, porque eu quero ficar com ela o tempo inteiro, e para sempre. E não tem o que ela faça de errado, o quanto eu possa me sentir abandonada por ela, eu ainda a quero o tempo inteiro, para sempre.

Só que tem um coisa estranha quando se trata dos adultos: a paixão parece que acaba e eles se separam. E tem situações que só um sente isso e o outro não – daí esse outro vai embora e você fica triste. A notícia boa é que tem uns casos que a paixão não acaba, mas se transforma em outro sentimento: o amor. Parece que é aí que as pessoas têm vontade de fazer o tal do casamento.

Eu entendi pela conversa delas que os adultos vivem muitas paixões; e até mesmo paixões que viram amor. E não significa que se casam todas as vezes que isso acontece. Não ficou muito claro quando eles decidem isso de casar. Mas ficou claro que tem gente que sente coisas de todos os tipos. Tem quem se apaixona sempre. E sofre muito. Tem quem não se apaixona nunca. E também sofre. Tem quem se apaixona sempre e muda de paixão como quem muda de roupa. Esse elas disseram que não sofre. Será? Deve ser difícil não ver o tal do amor aparecer.

A amiga da mamãe falou que ela gosta muito do marido, é muito amiga dele, ,mas que não quer mais ser casada com ele. Mas aí bagunçou tudo pra mim - então por que  ela está indo embora do casamento? E o que é o tal do amor?

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CAPÍTULO 42 - Meus presentes de aniversário

Essa semana eu ganhei muitos presentes de aniversário! Meus pais me deram dois livros: um para bebês e um de história escrito em espanhol. Minha mãe me disse que comprou os livros em um Shopping Center dos livros chamado Bienal, que é o único Shopping no qual ela verdadeiramente se diverte.

Minha tia Eleonora também me deu um livro, mas adicionou um tênis cor de rosa. Ela disse que escolheu os dois para que um (o livro) cuidasse do meu lado “intelectual” e o rosa do tênis, do meu lado “feminino”. Fiquei um pouco confusa com todos esses termos... será que tudo no mundo dos adultos é assim tão definido? Se quando brincar com o livro sou “intelectual” e quando vestir o rosa sou “feminino”? Deve ser isso....e se só usar o rosa não posso ser intelectual?? E se só brincar com o livro não sou “feminino”? .

Então veio o presente que me causou a reação mais imediata: o baldinho de areia que ganhei de outra tia. Lembrei de todos os dias que passeio na pracinha e pensei como aquele  baldinho com pá me seria muito útil! Minha tia se encheu de orgulho e disse pra minha mãe com um pouco de desdém: “Claro que preferiu o meu presente! Com um ano, que criança iria preferir um livro? Elas querem brincar!

Teve também um amigo da minha mãe que veio com um presente desconhecido: uma Barbie! Ele me explicou que a Barbie é a boneca mais famosa aqui na Terra e que estava me dando porque sabia que meus pais não teriam pensado em me dar uma Barbie! Explicou que é gostoso ter o que chamou de “objetos de desejo coletivo”. Fiquei pensando nisso...por que será que meus pais não pensaram em me dar uma boneca pra eu ter um “objeto de desejo coletivo”??

A verdade é que gostei de tudo: da minha Barbie, do meu tênis cor de rosa, do meu balde com pá e de todos os meus livros! Assim posso ser “intelectual” e “feminino”, brincar e, de quebra, ter um “objeto de desejo coletivo” – seja lá o que isso significar!

E pra terminar meu dia da melhor maneira possível, minha mãe me contou como tudo aconteceu desde o dia da minha chegada na Terra, que é o dia que ela considera a minha chegada no mundo. Os adultos não sabem, mas a nossa chegada é bem anterior ao dia do parto. Mas isso fica para outro dia!


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

CAPÍTULO 41 - Meu aniversário de 1 ano!

Hoje eu faço um ano! Isso quer dizer que faz um ano – no tempo que os adultos contam na Terra – que eu saí da barriga da minha mãe.

Eu adorei o bolo que o meu pai fez: um queijo branco rodeado de papinha de fruta! Meus pais dizem que ainda não posso comer bolo de verdade porque tem açúcar.... eles acham muito importante não comer açúcar porque açúcar baixa a imunidade. Sei lá eu o que é imunidade, mas certo ou errado, sei que não como o tal do açúcar por enquanto. O lado divertido dessa regra (mais uma dos adultos!) é que com certeza esse será meu único bolo de queijo nessa vida!

Minha mãe estava muito preocupada porque não ia passar o aniversário comigo. Queria muito poder fazê-la entender que essa coisa de aniversário é uma invenção que nós, bebês, só vamos entender mais tarde. A gente ainda não liga para essas invenções culturais. Somos meio “aculturados”.

Pois bem. Ela tinha que trabalhar. Então, pra tentar resolver aquele sentimento muito ruim de que não estaria comigo na tal data tão importante, achou por bem que o melhor seria me levar com ela para um lugar barulhento, frio e com um monte de gente estressada (ela chama de estúdio de gravação). Graças a Deus minha tia avó resolveu me salvar dessa roubada. Ela convenceu minha mãe que seria MUITO mais divertido se, ao invés de ir para o trabalho dela, fosse para um programa criado especialmente para mim! Neste momento entendi que minha tia avó era uma senhora bastante sensata.

Minha mãe devidamente convencida, fui com minha tia avó a um lugar chamado Shopping Center. Lugar enorme, cheio de luzes, escadas que sobem e descem sozinhas, comidas de todos os tipos e um monte de gente carregando sacolas, todos com uma animação incrível!  Pelo que eu entendi, as pessoas vão nesses lugares para comprar coisas – de todos os tipos.

Comprar é algo que vocês devem se lembrar do curso de preparação para vir para a Terra, né? Lá nos explicaram que aqui nesse mundo tudo o que é produzido pelo homem - no mundo físico - pode ser comprado. Eles compram a comida, as roupas, as casas, os brinquedos... tomara que as pracinhas também possam ser compradas, porque eu adoraria comprar uma pra mim!

Mas o que me deixou mais fascinada foram as escadas que se mexem sozinhas. Meu deslumbramento era tão grande que minha tia avó me chamou de índia. Concluí  que ser índia tem a ver com achar as coisas dos homens da cidade muito fascinantes (a tal da escada rolante é dos homens da cidade). Fiquei pensando se as índias não são bebês que nunca se acostumaram com essas doideiras criadas pelos homens da cidade....vou pesquisar isso mais tarde.





sexta-feira, 11 de outubro de 2013

CAPÍTULO 40 - O Trabalho do Papai

Meu pai anda meio triste... pelo que eu entendi é porque está sem trabalho. Parece que trabalho é algo muito importante na vida dos adultos, porque passam muito tempo falando disso.

Mamãe faz de tudo para eu não perceber quando eles estão tristes, mas isso é impossível. Eu percebo mesmo. E então faço de tudo para alegrá-los. Não sei se adianta, mas a verdade é que eles se distraem. Acho que aí está o segredo que os adultos se esquecem: que a alegria pode estar em coisas descomplicadas.

Voltando para o motivo da tristeza do meu pai, fico confusa.

Ouvi na televisão que em um lugar chamado Estados Unidos, 10% das pessoas que moram lá estão desempregadas. Não sei nada de Estados Unidos, mas já percebi que é um lugar importante, porque as pessoas sempre falam desse canto do mundo com muita atenção. Também não entendo o que é 10%, mas já percebi que é uma medida que significa muita coisa, porque a mamãe tem mania de falar que está 10% acima do peso - e diz isso com uma cara de que significa bastante!

Pois bem: se o  trabalho é tão fundamental assim, como pode não existir pra todo mundo? Nem mesmo no tal dos Estados Unidos!! Acho que vou ter que crescer pra matar essa xarada!

Nessas horas, eu queria muito já saber falar. Porque adoraria poder dizer pro meu pai que o trabalho que ele exerce lá em casa é o mais bem feito do mundo: ele pratica o cargo de pai com a mais profunda maestria!!! Se ele pudesse compreender isso  - nessa hora que parece ser tão difícil - talvez eu o ajudasse a compreender que a importância das pessoas nunca está em um único lugar...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

CAPÍTULO 39 - A primeira febre

Esta noite, pela primeira vez, tive febre. Mamãe ficou logo apavorada. Mas papai não. Acho que ele percebeu que não era nada, quer dizer, era apenas alguma virose sem maior importância. E conseguiu convencê-la a não irmos para o hospital. 

Fiquei feliz por meu pai ter conseguido convencer minha mãe a me deixar em casa. Imagina você estar com 39,5 de febre, mole, com frio, se sentindo mal e, ao invés de ficar na cama dos pais, quentinha e protegida, ser levada para um hospital? Deve ser horrível...

Mas minha alegria não demorou muito. Sem perguntar para ninguém o que fazer quando o bebê de 09 meses está com 39,5 de febre, resolveram me molhar! Que desastre... eu chorei bem alto, mas não serviu para muita coisa: eles acharam que meu choro era de frio e acabaram me levando pra dentro da pia mesmo assim... eles definitivamente não me entendem!

Na manhã seguinte, fui salva pela pediatra! Ela foi logo dizendo: “Banho frio é o último recurso – nunca o primeiro!” Obrigada querida pediatra; outro banho frio e eu ficaria realmente acabada!

Com todo o ocorrido, ganhei o dia em casa. Foi a primeira vez que faltei na escola. Mas achei um exagero da mamãe, porque eu já estava bem, sem febre e pronta para brincar com os meus amigos. As mães são assim mesmo, muito preocupadas. 

Quando Papai chegou, logo perguntou: “Margarida não foi pra creche?” E mamãe, com aquela voz decidida, própria da maternidade quando confrontada com a paternidade, respondeu com certa arrogância: “Claro que não, teve 39,5 de manhã.” 

Eu troquei um olhar de cumplicidade com o papai, e ele entendeu que era melhor assim, deixar a mamãe tranquila, com sua certeza de que fez o que é bom pra mim. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

SEMANA 38 - A comida dos meus pais

Percebi que enquanto estou na minha cadeirinha comendo a comida colorida que eles chamam de papinha, no prato do meu pai e da minha mãe tem uma comida diferente! E parece ser muuuuuuito melhor!

Como eles não entendem o que eu falo, mergulhei direto em cima do prato do meu pai. 

E, então, surgiu uma grande dúvida: por que eles me dão essa comida sem graça e comem uma comida muito melhor?

Eu sei que ainda não tenho todos os dentes, mas também sei que a maioria das coisas que eles comem eu poderia comer sem dentes mesmo.

Será que existem outros empecilhos para comer comida de adulto além de não ter dentes?? 

Eles poderiam, ao menos, me explicar...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

SEMANA 37 - O tempo da minha mãe

Eu não gosto de me separar da minha mãe. Não me importo de ir para a escola. Mas não gosto quando chego em casa e ela ainda não chegou. 

Ou, pior ainda, quando ela está em casa, mas não fica comigo!

Também não gosto de celular e nem de computador. Gosto quando ela fica COMIGO, e presta atenção em MIM. 

Por que será que ela não pode – quando eu estou em casa – prestar atenção SÓ em mim?
Será que estou esperando demais?

Será que todos os adultos são muito ocupados?
Será que os adultos são assim tão ocupados porque querem, ou já nem percebem que criam suas ocupações?

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

SEMANA 36 - Minha primeira palavra!

Nesta semana, eu disse “PAPA” pela primeira vez. Meu pai não demonstra, mas eu sei que ele ficou muito emocionado!

MAMÃE” eu ainda não disse. Mas com ela é diferente,  não preciso falar “MAMÃE” para conseguir me comunicar. Por isso deixei essa palavra para depois. 

Com meu pai, por mais presente que ele seja, preciso ser bem clara para fazer ele me escutar. Então, achei mais sábio aprender “PAPA” antes de “MAMÃE”.

Estou muito feliz por ter falado a minha primeira palavra. Falar é mesmo impressionante. Você pensa e, através da fala, os outros te entendem. Até agora, eu ficava torcendo para eles me entenderem. Mas com a fala é outra história. Todo mundo entende rapidinho!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

SEMANA 35 - Quero falar!

Eu queria muito saber falar! Estou treinando. Estou realmente precisando aprender a falar porque os adultos não entendem a comunicação fora das palavras!

Agora eu entendo tudo muito mais, mas ainda não sei falar... 

Às vezes, quando está tudo em silêncio, eu faço barulhos. E quando alguém fala comigo eu respondo. Do meu jeito, porque ainda não sei usar as palavras. Mas gosto de responder para eles saberem que eu entendo o que eles dizem.

Sabe o que é engraçado? Os adultos acham que porque não sabemos falar nós não os entendemos. 

É justo o contrário: nós entendemos tudo. São eles que não nos entendem.  Aliás, é importante dizer: é mais difícil falar do que entender.  No meu caso, é mais complicado: meu pai fala em uma língua e minha mãe fala em outra.

Explico: os adultos dividiram a Terra em países, e cada país tem a sua língua. A língua (não a que fica na boca, e sim as palavras que saem dela) é algo próprio de cada país. Tem alguns países que usam línguas muito parecidas. E ainda tem países que usam várias línguas.

Complicado.... só sei que a Terra é muito dividida: em línguas, países, culturas e raças.

Língua é como as pessoas falam.
Países eu já falei antes: são divisões imaginárias que os adultos inventaram e desenharam no mapa, separando as pessoas em lugarzinhos diferentes.
Cultura, eu acho, é como as pessoas pensam e se comportam.

E raça, eu realmente não entendi o que é raça...

terça-feira, 13 de agosto de 2013

SEMANA 34 - A Vacina e os Adultos

Mais uma vacina.... É uma coisa horrível 

Eles me seguram e me picam com uma agulha. É o papai que me segura porque a mamãe tem pena e não consegue. 

A mamãe me explicou – desde a primeira vacina – que é para proteger contra doenças. E ela disse, assim como se fosse um detalhe, que a parte chata da vacina é que dói um pouquinho...

Por que os adultos não falam a verdade?
Um pouquinho????
Dói muito! Muuuuuito mesmo.

Nessa horas eu não entendo os adultos. Era melhor eles falarem a verdade. 

Eles contam da vida  - para nós bebês – como se não existisse dor, perda, separação. Mas nós sabemos de tudo isso. Sabemos melhor que eles porque sentimos tudo para além das palavras. 

Será que falar das partes difíceis da vida não seria uma estratégia melhor que fingir que tudo é perfeito?

Minha mãe e meu pai sempre me dizem que não estão tristes quando eu vejo que eles estão tristes. Sempre me dizem que não estão brigando quando eu vejo que eles estão brigando. Sempre me dizem que está tudo bem quando eu estou triste por alguma coisa. 

Por que será que eles falam o contrário?

terça-feira, 6 de agosto de 2013

SEMANA 33 - Os países

Depois da fantástica viagem de avião, chegamos no país onde moram a “abuela” e o “abuelo” – a Espanha. Eles sempre dizem que é longe, mas eu confesso que não percebi porque acabei dormindo e quando acordei já estávamos chegando.

Pelo que eu entendi, os adultos dividem o planeta em pedaços. Um país é um desses pedaços da Terra. Mas ainda não entendi como eles fazem pra separar esses pedaços; não sei como inventam esses desenhos. 

Por que uns países são maiores que outros?
E por que tem países onde as pessoas falam várias línguas diferentes, e por que em vários países diferentes as pessoas falam a mesma língua?

E parece que a sua vida de bebê pode variar muito de um país para outro.

Aqui na Espanha, por exemplo, os adultos deixam os bebês acordados até bem mais tarde! Dizem que é porque eles têm que aproveitar o verão. Também, aqui na Espanha não tem babás, ou pelo menos eu não vi. Não tem mulheres vestidas de branco com os bebês nas pracinhas que nem lá perto de casa.  

Como será em outros países? Será que os bebês dormem em berço que nem eu durmo; ou será que dormem em algum outro lugar? Será que comem papinhas ou será que comem comida de adulto? Será que tomam banho todo dia? Será que mamam no peito sempre que querem?

Eu queria saber!

A única coisa que sei até agora é que meu pai e minha mãe são de países diferentes. E é por isso que meu pai fala diferente da minha mãe.

terça-feira, 16 de julho de 2013

SEMANA 32 - O avião

Eu passeei de avião!

Minha mãe disse que o avião voa, que íamos voar, mas eu fiquei sentada e não voei nada... Muita decepção.... 

Primeiro minha mãe me colocou para mamar no peito sem eu pedir. Eu aceitei.  Depois, meus pais fizeram um piquenique que veio em uma bandeja e eu... adivinhem? A papinha de sempre. Mas dessa vez em potinho.

Estou me desinteressando das papinhas. Outro dia eu tava na minha cadeirinha comendo a minha comida de sempre quando vi que a comida que o meu pai e a minha mãe estavam comendo: era muito mais colorida! E muuuuuito melhor! Eu mergulhei em cima do prato do meu pai e fiz a maior confusão....  Por que eles me dão essa comida sem graça e comem uma comida com cara muito melhor?

No avião, descobri que o tal piquenique que vem na bandeja é uma tal de comida industrializada, uma novidade e tanto da vida aqui na Terra.

Aí, alimentada, eles me colocaram num bercinho e eu dormi. Meus pais estavam preocupados sobre como seria a viagem, e não foi nada demais. Para mim foi bem decepcionante... Já para eles foi impressionante porque foi muito mais fácil do que haviam imaginado.

Na verdade é mais fácil viajar agora do que depois. Nós – bebês - não temos  necessidade de nos mover e podemos ser confortados com peito ou mamadeira.  Além disso a gente não chuta a poltrona da frente nem derrama a bebida e nem precisa ir ao banheiro justo na hora em que os carrinhos de comida estão bloqueando o caminho! Eu vi as crianças maiores fazendo muita confusão!

Eu não voei, como havia imaginado....
Parece que aqui na Terra, só os pássaros voam.

Eu já sabia – pelo curso de preparação – que aqui a espécie humana não pode voar. Mas achei- quando minha mãe disse que íamos voar no avião – que alguma nova descoberta havia sido feita e que finalmente os humanos poderiam voar.

É o avião que voa. Nós não...

terça-feira, 9 de julho de 2013

SEMANA 31 - Engatinhando!

Estou engatinhando! É uma coisa incrível. A mais incrível dos últimos tempos!

Tudo mudou. 
Eu posso ir de um lugar a outro! 
Antes, eu só mudava de lugar sendo carregada por alguém. Podia ser no carrinho, no colo, no berço, mas eram os adultos que me colocavam em um lugar, ou em outro lugar.

Agora, se estou em um lugar e quero mudar, posso ir sozinha, sem precisar de ninguém!

É incrível. Mas não é só uma questão de ir de um lugar a outro.
É uma questão de poder DECIDIR onde ir.
É maravilhoso!

Requer esforço. Eu ainda não sei engatinhar bem. Mas já consigo buscar objetos do meu interesse; seguir um barulho; e algo sensacional: procurar (e achar!) a mamãe se ela sai de perto de mim.

Decidir é quando você escolhe o que fazer. 
Na nossa vida de bebês, temos pouquíssimo poder de decisão. E pelas minhas observações, parece que quanto mais independência conquistamos, maior poder de decisão adquirimos – será?

Nossa vida, neste momento, é determinada por termos – ou não – uma mamãe e um papai que nos ame. Entender, vocês já sabem, eles nos entendem pouco. Mas quando eles nos amam (e na maioria das vezes isso acontece) eles passam o tempo todo nos ensinando coisas, para um dia podermos decidir sozinhos. 

Engatinhar é um dos primeiros grandes passos no caminho para a independência!

terça-feira, 2 de julho de 2013

SEMANA 30 - O olhar

Eu contei para vocês outro dia sobre um monte de coisa que os adultos precisam fazer para a gente, porque chegamos aqui sem realmente saber nos virar no mundo físico....

E me lembrei do curso de preparação: nós somos os bebês mais prematuros de todas as espécies! Funciona assim porque precisamos ser pequeninos para caber no canal do parto. 

Nós precisamos de muitas coisas – alimento, proteção, calor, amor... – é tanta coisa que os adultos acabam achando que a gente não sabe fazer nada.... 

Por outro lado, aprendemos tanto e tão rapidamente logo nos primeiros meses:

- viver fora da barriga
- respirar sozinhos
- mamar no peito (ou na mamadeira...são ambos muito difíceis...)
- dormir longe do colo da mamãe
- reconhecer pessoas, olhar nos seus olhos
- mexer o corpo
- sentar

É muito assunto para aprender! De tudo o que eu aprendi até agora, o que eu gosto mais é de olhar o que está a minha volta. 

E sobretudo olhar as pessoas. Eu fico fascinada com os olhos porque pelos olhos dá para entender tudo o que está acontecendo dentro da pessoa. É só prestar atenção.  Tenho a impressão de que os olhos contam o que a pessoa está vivendo... e isso me encanta.

É por isso que a gente entende tão bem os adultos, mesmo quando ainda não sabemos entender o significado das palavras. Está tudo dito no olhar. É só olhar!

Apesar de achar que minha mãe me entenda - na maioria das vezes - apenas com um olhar, eu sei que isso não acontece com a maioria dos adultos. Eles nos olham, nos olham, e não nos entendem!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

SEMANA 29 - A Manifestação

Todos os dias, minha mãe me leva pra passear. Mas hoje todo mundo resolveu sair pra passear ao mesmo tempo. Todo mundo sorria para mim, eu estava adorando e queria ir mais perto porque era bonito ver tanta gente passeando em conjunto, caminhando e cantando! Mas a mamãe não quis ir mais perto... acho que ela sentia um pouco de medo, apesar de ser tudo muito bonito!

Descobri que esse passeio aconteceu em várias cidades, com várias pessoas, em vários dias.  E todo mundo chamou de manifestação. 

Pelo que entendi, manifestação é quando um monte de gente se reúne, não para passear, mas para reclamar de alguma coisa. E do que eles estão reclamando?

Na televisão explicaram de vários jeitos o que está acontecendo... mas eu fiquei confusa.  Até que meu pai falou sobre algo que eu nem sabia que existia: os adultos escolhem algumas pessoas pra organizar a vida em comum de todo mundo que mora no nosso país. Quero dizer, a vida do mundo físico, porque o pensamento e o amor são livres. 

Essas pessoas que organizam a vida do país são escolhidas por todos os adultos, só que, não sei como, esses “escolhidos” começaram a fazer coisas que não foram combinadas! Então, os manifestantes se cansaram de esperar pelo combinado e resolveram falar para seus escolhidos que não estão gostando do que está sendo feito.

Ufa, deve ser muito difícil falar com os escolhidos, porque é muita gente, em muitas passeatas, em muitos dias... por que eles demoram tanto para escutar? E por que será que os escolhidos não estão fazendo o que combinaram que iam fazer? E o que é esse combinado?

Eu já ouvi minha mãe dizer que a pior coisa no nosso país é a desigualdade. 

No curso de preparação para vir para a Terra, eu aprendi que a desigualdade é como uma corrida de atletismo em que uns podem começar na frente dos outros. Então, as chances para ganhar não são iguais; as oportunidades não são iguais; os direitos não são iguais. 

Isso tudo é muito complicado e eu fiquei pensando: 
1. Se existem os “escolhidos” para organizar o mundo físico;
2. Se existem os que começam a corrida mais pra frente; 

Por que os escolhidos + os que começam a corrida mais para a frente não combinam de ajudar os que estão atrás, e todos chegam juntos?

Desse jeito o nosso país seria feliz e os adultos só ficariam tristes pelas coisas que não pertencem ao mundo físico e que não têm como ser organizadas... 

Será que desse jeito ficaria mais fácil para os adultos aprenderem que nossa maior missão na Terra não é ganhar a corrida, mas amar? 

Os adultos complicam muito a vida na Terra...

terça-feira, 18 de junho de 2013

SEMANA 28 – Meus pais brigaram...

Nós bebes precisamos de muitas coisas. Uma das coisas mais importantes de que precisamos é uma mãe e um pai felizes. Hoje, eu vi a minha mãe e o meu pai brigarem, e fiquei apavorada. 

Se eles brigarem, o que acontece comigo? Eles perceberam e me disseram que não era nada demais. Os adultos brigam, e fazem as pazes. As crianças brigam também, e fazem as pazes também. Até os países brigam, e fazem as pazes. 

Eu queria que eles mudassem de assunto. E tive uma idéia: eu sorri. Descobri que sorrir é minha arma secreta. É só eu sorrir que mamãe e papai param o que estão fazendo e prestam atenção em mim! E atenção é o que nós, bebês, mais procuramos na Terra. Queremos que os pais, ou quem quer que seja que cuide da gente, nos dê atenção. Queremos sentir a garantia de que estamos sendo cuidados.

Eu acho que isso acontece porque temos medo de sermos abandonados.... Por isso eu gosto de estar perto da mamãe. E do papai. Com eles eu tenho certeza de que não serei abandonada. É por isso também que gosto de me grudar tanto no corpo da minha mãe. 

A gente aprende no curso de preparação para vir para a Terra que somos programados biologicamente para fazerem nossos pais nos amarem. E é um programa bem feitinho, pois normalmente funciona. Talvez, a ferramenta mais importante do sistema é o fato de sermos inteiramente dependentes quando nascemos.

Não fazemos nada sozinhos. Os adultos precisam fazer tudo: dar comida, dar banho, trocar a fralda....mas isso não é tudo.... 

Além de tudo isso que pertence ao mundo físico, a gente precisa de amor. Sobre o amor eu não preciso explicar, é igual aqui e aí: é querer bem ao outro. E o amor pode estar em qualquer lugar, aparece das formas mais diversas, mas é sempre o amor. Pode estar no peito, no abraço, no sorriso, mas pode também estar em trocar a fralda, em dar a comida e em dar o banho.

O amor pode estar em qualquer lugar. Por isso eu fiquei pensando: será que o amor também pode estar na briga? Ou será que quando a mamãe e o papai brigam, o amor vai embora?

terça-feira, 11 de junho de 2013

SEMANA 27 - Escola para bebês

Eu entrei na escola para bebês!

Eu imaginei que fosse parecido com a escola que a gente freqüenta quando faz o curso de preparação para vir para a Terra. Mas é totalmente diferente. 

Nós bebês temos um espaço grande para brincar. As professoras cantam e contam histórias.

Depois a gente come: são aquelas comidas coloridas que eu já conhecia de casa. E sempre com colher. Eles não deixam a gente tentar, e alguém nos dá comida na boca. Além da comida, cada um tem o seu berço. Tem também o lugar de tomar sol.

Eu gosto da escola, é divertido estar com os outros bebês. Eu não tinha amigos antes. Os outros bebês me entendem. Eles querem coisas muito parecidas com as que eu quero. Sentem coisas muito parecidas também. Divertem-se e choram assim como eu. Eu me sinto muito bem em estar entre eles. Será que é assim que a minha mãe se sente quando está no meio de outros adultos?

E agora eu tenho o MEU trabalho. Mamãe sai para trabalhar e eu saio para a MINHA escola. 

Como dizer? Agora me sinto em pé de igualdade! E isso está me ajudando a entender que minha mãe pode gostar e se interessar por outras coisas que não seja exclusivamente EU, e mesmo assim ainda me amar muito.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

SEMANA 26 - Quem trabalha onde?

Ando com menos raiva do meu inimigo número 1: vocês já sabem... o TRABALHO.

Talvez porque estou cada dia aprendendo coisas novas sobre ele.

Já entendi, por exemplo, que os adultos trabalham porque precisam organizar a vida na Terra.

Mas ainda não entendi como é que se decide quem trabalha onde.  
Será que cada um já vem sabendo o que deve fazer? E se todo mundo quiser fazer o mesmo trabalho?

Quando eu vou na pracinha com a mamãe, encontro vários bebês. E várias mães colocam vários brinquedos no meio de vários bebês. E o que acontece quase sempre: a gente quer o MESMO brinquedo.

As mães repetem: “com tanto brinquedo, vocês não precisam querer o mesmo!”

Eu fiquei pensando se com o TRABALHO dos adultos não acontece a mesma coisa. E se for assim, quem é que decide quem vai trabalhar onde?

terça-feira, 28 de maio de 2013

SEMANA 25 - Uma boa notícia!

Quando eu comecei a achar que minha mãe não gostava mais de mim - porque ela agora vive fora de casa com o TRABALHO - veio a revelação: minha mãe disse que preferia ficar comigo!!!!!!!!!!!!

Ela me explicou que voltou para o trabalho porque isso é importante pra ela também, mas disse que eu sou ainda mais importante! Aí tudo mudou... 

Ela prefere ficar comigo! O TRABALHO é um inimigo, mas não é um inimigo muito forte. Ela pode até passar o dia com ele, mas prefere estar comigo! Depois que ela falou isso, eu até parei de chorar quando ela vai embora. Eu entendi que o trabalho faz parte da vida dela. Mas eu sou mais importante. 

E daí eu pensei uma coisa: as EMOÇÕES valem mais que o TEMPO. Explico: o trabalho é o que as pessoas fazem para construir o mundo. E para isso é preciso TEMPO. O mundo precisa de muita gente trabalhando, durante muito tempo, para tudo acontecer. Quase tudo o que a gente vive no mundo físico vem do trabalho. A comida, a casa, as roupas: para tudo existir é preciso haver trabalho.

Mas aí eu fiquei na dúvida: minha mãe produz o leite que eu tomo. Isso é um trabalho. E é muito leite porque eu mamo várias vezes por dia.

Por que então ela tem dois trabalhos?

terça-feira, 21 de maio de 2013

SEMANA 24 - Minha mãe foi embora....


Minha mãe foi embora...agora só a vejo de noite...todo o dia agora é com o TRABALHO. 

Será que ela não gosta mais de mim?

No momento em que ela vai sair, eu choro. E mesmo assim ela vai embora.... ou seja, já aprendi que chorar não adianta.

Ela me diz que tenho que entender: os adultos trabalham. Não apenas os homens, as mulheres também. A minha mãe explicou que tinha parado de trabalhar fora de casa quando eu nasci porque no começo é muito importante a mãe ficar com o bebê. 

Nós sabemos disso melhor que os adultos:
1. Precisamos da nossa mãe porque é ela que nos amamenta.  
2. Precisamos da nossa mãe porque o processo de separação da vida da barriga é muito radical para nós.  

Mas ela explicou ainda mais: aqui na Terra existe aquele negócio que regula tudo: a Lei. E essa lei no país que a gente vive decidiu que as mães têm 4 meses para ficar com os seus bebês (mas a minha mãe conseguiu 6!). 

Esse pessoal da Lei deve ser bem sabido, pois conseguiram entender algo que eu não consegui: 
Por que 4 meses? 
E por que para todo mundo é igual? 
E se a bebê que mora ao lado ficar bem com 3 meses? 
E se eu e a minha mãe precisarmos de 1 ano????? 
Será que eles pensam que todos os bebês e todas as mães funcionam igualzinho??

Vou dizer o que eu penso: eu desconfio desse pessoal da Lei....


terça-feira, 14 de maio de 2013

SEMANA 23 - O Trabalho da Mamãe


Eu soube, recentemente, que a minha mãe trabalha fora de casa, e que parou de trabalhar quando eu nasci. 

Ela já tinha me explicado, e tinha falado também que voltaria a trabalhar em algum momento. (mas eu esqueci sobre essa segunda parte porque não gostei).

E então, nessa semana, isso aconteceu: minha mãe me disse que vai voltar a trabalhar na rua LOGO. Disse mais: que eu vou ficar com a Neide e quando eu aprender a engatinhar vou entrar na creche.

Creche é um lugar para bebês. Minha mãe disse que vou gostar porque tem muitos bebês e muitos brinquedos, é um lugar bonito, cheio de atividades divertidas.

Neide é uma moça muito boazinha que está sempre por aqui arrumando a casa. Minha mãe quase não sai de casa sem mim, mas quando sai é com a Neide que eu fico. Eu gosto da Neide, ela é muito legal, mas estou aterrorizada... esse trabalho da minha mãe parece ser um competidor muito desleal. 

Ela vai passar muito mais horas com ELE do que COMIGO. E por causa do trabalho, ela não vai ficar em casa. E por que ela não falou antes que seria assim?

A Neide pode até me dar mamadeira, mas e o peito? Eu sempre mamei o dia inteiro no peito!

Será que ela gosta mais do TRABALHO do que de mim?

Eu achei que já tinha passado a parte mais difícil e vejam só o que acontece agora...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

SEMANA 22 - A primeira papinha

Hoje, uma grande novidade: comi a primeira papinha. 

Eu não entendi bem pra que serve, afinal tenho o peito e a mamadeira. Só sei que de repente colocaram um negócio na minha boca chamado COLHER. É uma espécie de mamadeira, mas que carrega COMIDA. 


O que a gente toma no peito e na mamadeira é LEITE. Leite é BEBIDA. Descobri, então, que tem outro alimento, que é COMIDA. E dá muito mais trabalho. Eu achei complicado. Mas o gosto é até bom. 


Meu pai e minha mãe acharam muito importante a minha primeira papinha. Eles tiraram foto e contaram para a família inteira. Eu não comi não.... mas só no início, porque não entendia como usar a tal da colher.


E daí eu chorei  - eu tinha fome e o que queria mesmo era o leite. Então eles desistiram de insistir na papinha e me deram leite.


Mas eu já entendi que isso não vai adiantar sempre.... vou ter que aprender a comer essa tal de papinha.... 


Aliás, uma coisa é certa na vida na Terra: quando você acha que está adaptado à situação, tudo muda de repente. Toda vez que eu estou tranquila, vem novidade!



PRÓXIMA PUBLICAÇÃO: 13 de maio 

terça-feira, 30 de abril de 2013

SEMANA 21 - Minha Mãe e o Trabalho


Agora que a gente sai mais para passear, mamãe me apresentou uma bolsa na qual eu posso ir dentro. Parece a bolsa de canguru. É uma maravilha porque a mamãe pode fazer várias coisas enquanto eu estou ali, feliz e quentinha – ou seja, apesar da mamãe poder se sentir livre, eu posso continuar a ser muuuito dependente dela. Foi assim também que ela passou a sair mais. Pra mim, é aconchegante e próximo.

Hoje, ao som do corpo da minha mãe (aquele igual ao que eu ouvia quando estava dentro da barriga dela), eu fui - no canguru - ao centro da cidade, fazer compras com minha mãe e meu pai.

Minha mãe me explicou que o centro é a parte da cidade onde estão os bancos, os museus e os homens que trabalham com terno e gravata. Terno e gravata é o uniforme de trabalho.

Mas eu não sei se entendi trabalho muito bem. Confesso que fiquei confusa com o que vi. Explico: lá de casa, eu pensava: os homens trabalham na rua, e as mulheres trabalham em casa, com seus bebês. 

Mas hoje eu vi – no centro da cidade - um monte de mulher que trabalha na rua!

A minha mãe tentou explicar e foi aí que eu me preocupei... ela falou que ela também trabalha FORA DE CASA! Ela só parou de trabalhar quando eu nasci!

E o pior: um dia ela vai voltar a trabalhar!! E eu????

A minha mãe falou que trabalho é o que a pessoa produz. Se a minha mãe me “produziu”, eu sou o trabalho da minha mãe. Por que ela vai trocar um trabalho – que sou eu – por outro trabalho – que não sou eu???

sexta-feira, 19 de abril de 2013

SEMANA 20 - A hora de dormir

Acabei de completar 5 meses! E agora as amigas da mamãe começaram a insistir que ela tem que obedecer a uma nova regra:  me ensinar a dormir sozinha. Será? Como sempre, acabo me perguntando: de onde o pessoal tira tanta regra? 

Eu desconfio que esse seja um assunto tabu por aqui. Mas me lembro bem do curso de preparação e posso afirmar: é tudo uma questão cultural.

No curso aprendi que desde a Pré Historia nós dormíamos junto das mães. Se era assim naquela época, quando as pessoas adultas não pensavam tanto, mas agiam mais instintivamente, algo me diz que se a mamãe - e suas amigas - seguissem o coração, elas seriam felizes em dividir a cama com os seus bebês.

Existe um milhão de maneiras certas para agir, mas os adultos sempre falam como se somente existisse uma única forma, como se houvesse apenas um lado da verdade.

O que será que leva tanta gente a opinar? Já ouvi de tudo: deixe chorar por cinco minutos... fique ao lado por vinte minutos...

Eu queria que mamãe ignorasse os conselhos dos outros e ouvisse só a mim.... Mas ela acha que sou um bebezinho, que não sei nada, e que os adultos sim sabem tudo. Mal sabe ela que eu sei melhor que os adultos o que me faz mais feliz.

Ela tentou me ensinar a dormir sozinha, mas eu consegui convencê-la a desistir! Agora, ela me faz carinho e me dá vários beijos. Depois, fica comigo até eu adormecer.  

E não é que já ouvi uns adultos dizendo que eu estou “manipulando”a minha mãe??? Gente maluca! Eu sou um bebê! Por que é tão difícil entender que eu não quero, ainda, ser independente? Eu quero aproveitar ao máximo o colo da minha mamãe, quando isso ainda é possível. É onde me sinto mais segura e mais feliz.

Eu sei que a vida é difícil para os adultos. E acho que uma das razões é porque eles não têm mais o colo de mãe.

Por que será que quando a gente cresce perde o colo de mãe?
Será que os adultos não cabem no colo da mãe deles?

quarta-feira, 10 de abril de 2013

SEMANA 19 - A Nova Lei e as Babás

Essa semana as amigas da minha mãe só falam de um assunto: como conciliar as babás com uma lei nova que acabou de aparecer?

Hoje tenho muita coisa pra explicar. Vou começar pela LEI: Lei é o que os adultos determinam como regras que todo mundo tem que seguir. Eu não sei exatamente quais assuntos são tratados por essas tais leis, mas sei que elas variam de acordo com o tempo e o espaço.

Será que mamar a cada 3 horas é uma Lei? Será que minha mãe está indo contra a LEI para me deixar feliz? Ihhhh....

Bem que podiam incluir um curso de LEI na preparação para vir para a Terra... Nós ficaríamos bem mais situados!

Pois bem, voltando aos recentes acontecimentos: os adultos inventaram essa nova lei para regular o trabalho do pessoal que trabalha dentro da nossa casa. E ela traz muitas mudanças.

Minha mãe disse que mudar costuma ser difícil pra todo mundo, mas que são mudanças muito boas porque, pela primeira vez, todo mundo vai ter que se lembrar de respeitar vários direitos do pessoal que tanto ajuda nossa família a se organizar (bom, sobre o que é direito vamos ter que falar em outro dia, pois esse tal de direito é difícil).

Não entendi muito bem e minha mãe economizou na explicação.... mas ela até chegou a falar de escravidão....

BABÁ = ESCRAVIDÃO?

Eu lembro, e até já contei para vocês, que na Terra já  houve escravidão: uma coisa horrível, quando um homem é  dono de outro homem e pode obrigá-lo a fazer tudo o que quiser.

Mas eu não consegui entender o que as babás têm a ver com isso....

A nova lei diz que as babás só podem trabalhar por um tempo (ou seja, não podem ficar o dia inteiro trabalhando). Eu não entendo bem o tempo, mas as amigas da mamãe dizem que esse tempo da lei não dá para cobrir o trabalho delas + o tempo de ir e voltar para casa. Mas aí me lembrei da escravidão: será que o que minha mãe quis dizer com isso é que está certo limitar o tempo de trabalho delas porque afinal de contas elas têm sua vida para viver e ser babá é apenas um trabalho? Se elas tivessem que ficar o tempo todo comigo, como iriam viver suas próprias vidas?

Depois de falarem uma tarde inteira, chegaram à conclusão que a lei é de fato boa. Mas chegaram também a uma conclusão interessante: que gostariam de trabalhar menos para não depender tanto de babás.

Foi aí que eu me impressionei: Então as mães dependem das babás?

Isso é uma lição importante para vocês e vou explicar o porquê: as babás são mulheres vestidas de branco que passeiam com os bebês e cuidam dos bebês quando as mães NÃO estão por perto.

As mães não estão por perto porque tem que fazer outras coisas, como trabalhar, ir ao supermercado e ao cabeleireiro. Também existem babás que ficam ao lado das mães. Mas nesse caso o papel da babá já fica confuso pra mim.... não sei explicar... penso depois nisso!


domingo, 31 de março de 2013

SEMANA 18 - A Páscoa

Depois de contar sobre o parto, eu me lembrei da minha “chegada”.

O que mais me impressionou ao sair da barriga da minha mãe foi a dúvida: eu era um pedaço da minha mãe ou uma outra pessoa??

Quero dizer, enquanto eu estava lá dentro da barriga dela, eu achava que nós éramos a mesma pessoa. Depois que eu nasci, todo mundo nos tratava como se fôssemos duas pessoas. É isso mesmo?

Eu levei um susto danado e fiquei confusa: como pode acontecer de sermos a mesma pessoa – quando eu estava dentro dela – e passar a ser outra pessoa tão de repente? Será que foi por isso que o meu mundo continuou a ser o corpo da minha mãe?

Eu demorei para “enxergar” a nossa casa, as outras pessoas, o mundo e tudo o mais dessa vida que eu não conhecia. No início, realmente tudo o que me importava era a minha mãe. Era como se somente ela fosse a minha casa.

Agora, percebo que a minha casa não é mais só a minha mãe....isso foi bom, porque era estranho sentir que eu não tinha casa quando ela precisava sair de perto de mim.

E hoje, essa “nova” casa está especialmente alegre e divertida. Tem um monte de gente da família e todos seguram um negócio redondo, coberto com papel laminado e dizem que são um presente pra mim!! Minha mãe me explicou que toda a família se reuniu porque é Páscoa.

Ela está com pressa, arrumando a casa, e acho que foi por isso que ela não quis me explicar o que é a Páscoa. A única coisa que disse – na hora em que estava saindo – foi que porque era Páscoa ela iria à missa, e que um outro dia, quando eu fosse maior, eu iria com ela.

Então, eu concluí que na Páscoa acontecem três coisas:
1.     A família se reúne.
2.     As crianças ganham bolas enroladas em papel laminado.
3.      A mamãe vai à missa.

Além das bolas, eu ganhei uma coelha com vestido de flores e cesta com ovinhos. A coelha é bonita e está sorrindo!

Mas se o ovo vem da galinha, por que eu ganhei uma coelha?


segunda-feira, 25 de março de 2013

SEMANA 17 - O Papa e o parto

Essa semana está todo mundo falando sobre um tal de novo PAPA. A televisão fala bem dele porque ele cuida dos pobres, é um homem simples e dispensou o carro a que tinha direito.

Minha mãe me explicou que PAPA é o líder da Igreja Católica. Católica é uma entre muitas religiões que existem no mundo. Pelo o que eu entendi, religião é como a gente vê a vida fora da Terra. Ou seja: a vida que os adultos não entendem.

Vou tentar explicar melhor: nós bebês não precisamos de religião porque nossa relação com Deus é muito próxima. Os adultos crescem, se esquecem de onde vêm e precisam se reconectar ao nosso mundo - e fazem isso através das religiões.

E não confundam: apesar de PAPA parecer PAPAI, não é a mesma coisa não. Aliás, é muito diferente. O PAPA não tem filhos. Ele é uma espécie de Pai para todos os da sua religião.

E não é que falando desse assunto da necessidade dos adultos de se reconectarem com o nosso mundo, lembrei do dia em que definitivamente saí dele?? Foi o dia do parto! Ainda não falei disso pra vocês, né? Pois bem, o negócio é o seguinte: Existem duas maneiras de nascer:

- maneira natural
- maneira feita pelos médicos

Minha mãe achava que nascer na primeira categoria é MUUUUITO melhor. Eu me lembro na gravidez: ela treinava as respirações, pensava sobre isso, falava sobre isso.

Acontece que eu estava com cordão umbilical enrolado no meu pescoço. Eu não sei por que isso aconteceu, mas sei que quando acontece a gente tem que se mexer o menos possível e nem pensar em virar de cabeça pra baixo! Isso eu lembro bem: é a parte de primeiros socorros para quando estamos dentro da barriga da mamãe.

A natureza é sábia: mesmo eu sendo um bebê, já sabia que o melhor a fazer era ficar quietinha, pois correria perigo se tentasse me virar.

E não é que a Mamãe seguiu seus instintos também! Um monte de gente falava pra ela: “Conversa com a tua bebê e pede para ela virar”. Ela sorria e agradecia o conselho. Depois dizia para o papai: “Se ela não está virando, deve ter os seus motivos.”

Pois bem: no começo ela ficou chateada, porque realmente queria que eu viesse pelo jeito natural. Mas depois, ela se conformou e entendeu que não é o tipo de parto que faz uma mãe melhor ou pior; definitivamente, não me trazer ao mundo pela maneira natural não a fez menos mãe!

sexta-feira, 15 de março de 2013

SEMANA 16 - Festa de adulto

Essa semana eu fui a uma festa! Nunca tinha ido. Eu estava no canguru do meu pai e dormi. Tinha muito barulho. Mas achei muito animado: era um monte de gente junta, conversando com copos na mão, que não paravam de virar para beber. Eles sentem muita sede!

Quer dizer: eu acho que eles sentem muita sede porque não param de segurar copo na mão.

Às vezes eles comem. Mas voltam a ter sede. Eu não entendi e minha mãe não explicou.

Depois, a família toda achou um absurdo terem me levado em uma festa com tanto SAMBA e tanta GENTE. Eu não entendi o problema. Com gente estou acostumada, vem sempre muita gente aqui em casa - inclusive quando quero ficar só com a minha mãe. E SAMBA é uma música alegre. Já ouvi música muito pior em casa. Não acho que SAMBA deva ser proibido para bebês.

A outra coisa é que agora descobri a voz. Quando tudo fica em silêncio eu gosto de experimentar e treinar a minha voz. Eu solto umas palavras, mas os adultos não entendem o que falo.

Por que será que a gente demora tanto para aprender a falar? Eu – e todos os bebês – sabemos entender o mundo dos pensamentos. Mas parece que os adultos têm dificuldade em entender a vida fora das palavras.

Eu acho que a gente demora pra aprender a falar porque deve ser proibido contar para as pessoas daqui como é o outro mundo. Por isso fiquei pensando: Será que a gente só aprende a falar quando esquece a nossa vida do outro mundo?



PRÓXIMA PUBLICAÇÃO: 22 de março

sexta-feira, 8 de março de 2013

SEMANA 15 - Eu choro menos agora!

   Definitivamente eu choro menos agora. Todos comentam muito sobre isso. Os amigos, os avós, todo mundo que vem aqui em casa fica feliz quando descobre que agora eu choro menos. E mais, dizem orgulhosos de já terem dito antes: “Viu só, eu não te avisei que depois do terceiro mês tudo melhorava?”

   Eu não imaginei que meu choro incomodasse tanta gente... é a minha maneira de falar... de expressar meu medo de ficar sozinha. Como agora eu já aprendi que minha mãe e meu pai estão sempre por perto, e que quando eles saem, eles sempre voltam, choro menos.
 

   Choro também quando estou estressada....
 

   Sobre o estresse: nenhum adulto acredita que podemos ficar “estressados”. Mas a gente fica estressado sim – principalmente quando se recebe estímulo demais.
 

   Minha mãe – apavorada com a minha suposta histeria – leu muito e acabou descobrindo que, em uma grande reunião, cheia de cientistas, chegaram à conclusão que esse choro pode ser chamado de “CAUSA OBSCURA, LONGO INFANTIL CHORO DE AGONIA”. E não falaram de cólica não! Será que finalmente os adultos estão nos entendendo?!

   Uma lista de tudo que eu gostaria que acontecesse nesses momentos de estresse:

- Mandassem todos os que não são MAMÃE E PAPAI embora.
- Não deixassem ninguém mais entrar.
- Me levassem para meu quarto ou um lugar tranquilo - mas não me deixassem sozinha.
- Me dessem de mamar.
- Me fizessem acreditar que sou amada e que não serei abandonada!



Próxima publicação: 15 de março

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

SEMANA 14 - O jeito que as coisas são


Pelo visto a vida não é passar o dia em casa. Minha mãe passeia cada vez mais! 

Ontem conheci um salão de beleza. Minha mãe me explicou: salão de beleza é um lugar onde as mulheres vão para ficar mais bonitas. Mas eu não entendi a relação entre as coisas que elas fazem no salão de beleza e ficar mais bonita. 

A minha mãe, por exemplo, é MUITO bonita. E pelo o que eu me lembro do curso de preparação para vir para a Terra, todos os bebês acham as suas mães bonitas. Ela é bonita e resolveu ir ao salão porque queria fazer depilação, para ficar ainda mais bonita. 

Agora vou explicar: depilação é tirar os pelos. Vou dizer, é uma coisa MUITO estranha! Eu vi bem de perto porque não dava para subir o meu carrinho - porque era no segundo andar - e eu fiquei no colo enquanto ela fazia a tal da depilação! 

Eu não entendi bem para que serve tirar os pelos. E quem disse que tirar os pelos faz alguém ficar mais bonita? Sim, eu entendi que as mulheres ACHAM que ficam mais bonitas sem os pelos. Mas por que será? Quem foi que inventou o que todo mundo acha? 

É muito difícil entender porque as coisas são do jeito que são aqui na Terra...

domingo, 17 de fevereiro de 2013

SEMANA 13 - O sorriso e o Carnaval



 Essa semana eu aprendi a sorrir! Sorrir é o que a gente faz quando fica feliz, sente esperança ou amor.

 Na verdade eu já era feliz antes, mas eu simplesmente não sabia sorrir. Meus pais acham que sorrir é a prova da felicidade. Acho que foi por isso que ficaram animadíssimos por verem que eu estava feliz. Eles ficaram tão entusiasmados que contaram pra todo mundo. 

 Agora, toda vez que eu dou um sorriso, eles comemoram!  Por mais que meus pais não me entendam bem, acho que eles me amam muito, porque ficam realmente contentes por me verem assim!

 E amar é isso, é quando a gente quer que alguém seja feliz.

 A outra coisa é que o Papai passou a semana toda em casa. É porque é carnaval e no carnaval ninguém trabalha. Minha mãe me contou que carnaval é quando todo mundo dança, canta, veste fantasia e fica feliz. Será então que no carnaval todo mundo se ama mais?

 Eu vi o Carnaval pela televisão. Tem de todos os tipos. Tem carnaval colorido, tem carnaval sem roupa, tem carnaval de bicho, tem carnaval de criança, tem carnaval em um monte de lugares. Meu pai queria me levar no carnaval de criança, um que se chama Bloco de Rua. Mas minha mãe não deixou...ela disse que eu ainda não tinha idade pra isso. Interessante porque para dormir sozinha no quarto eu já tenho idade, mas pra ir com o Papai no carnaval não tenho....vai entender esses adultos....!



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

SEMANA 12 - Fazendo 3 meses

Muita gente que vem aqui fala para minha mãe que quando eu fizer três meses tudo vai ser diferente. Eles dizem que eu vou chorar menos e dormir mais. E amanhã eu faço três meses! Eu sei porque a minha mãe disse. Ela queria comemorar, mas meu pai acha um exagero fazer bolo de aniversário todo mês. Eu não ligo pro bolo, afinal só como leite. Mas será que tudo vai mudar de um dia para o outro?

Eu acho que os adultos tem teorias demais... e dormir eu já durmo bastante, ninguém pode reclamar. A única coisa é que durmo na hora que tenho sono. Que não é exatamente a hora que minha mãe e meu pai querem que eu durma.

Mas a novidade de hoje é que minha mãe – que adora passear – agora me leva para todo lado! Ainda bem, eu corri sério risco de não ser convidada. Eu ouvi uma conversa em que diziam que ela está “disponível” demais, que deveria me deixar em casa com sei lá quem e sair sozinha!

Imagina, como a minha mãe poderia estar disponível DEMAIS? Mas - ufa - mamãe não deu ouvidos! Ela resolveu sair sim, mas sempre me leva! Nada de passar o dia em casa amamentando. Ela pegou a prática e agora me dá leite em qualquer lugar. Estou adorando porque eu gosto muito de ver o que existe nesse mundo.

Minha mãe agora me entendeu e me explica tudo. Ontem fomos ao supermercado. É lá que a gente pega comida. Eu só tomo leite, mas gosto de ver tudo o que existe. É bonito e colorido. Minha mãe empurra um carrinho onde todas as compras vão entrando.

Esse mundo físico é mais surpreendente do que a gente aprende por aí. Não sei nem por onde começar.... Eu não consegui ver tudo, minha mãe me coloca numa bolsa e eu fico parecendo um filhote de canguru. Como o balanço é bom, eu acabo dormindo... Mas prometo prestar mais atenção no próximo passeio e contar tudo para vocês!


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SEMANA 11 - Uma semana triste

Nessa semana parece que aconteceu uma coisa horrível aqui: um acidente onde muita  gente morreu. Eu não entendi bem o acontecido porque minha mãe não me deixa ver televisão e nem que falem nada na minha frente. Além disso, eu não sei o que é acidente. Mas entendi que foi algo horrível pelo jeito que minha mãe e meu pai reagiram ao noticiário.

Sobre morte, acho até que nós - bebês - entendemos melhor que os adultos. Parece ser o caminho inverso, quando a gente sai desse planeta físico e volta pra aí, onde vocês estão. Isso eu me lembro bem do curso: a gente vai para o mundo físico, e depois a gente volta. Só que ninguém sabe quando vai e nem quando volta.

A vinda eu já sei que chama nascimento. A volta acho que é a tal da morte. Só que por alguma razão que ainda não entendi bem, aqui na Terra os adultos acham que nascimento é bom e morte é ruim....vou observar mais para compreender isso, mas alguma coisa me diz que tem a ver com saudade: é aquilo que eu sinto quando minha mãe está longe de mim. Acho que o problema da morte deve ser esse: dá muita saudade porque quem volta para o outro mundo não tem comunicação com quem está nesse mundo daqui.... Ou não?

Falando sobre a minha vida, essa semana eu mudei. Achei que já estava na hora, afinal já sei que minha mãe me ama. Parei de acordar a cada três horas querendo mamar. Resolvi dormir mais e deixar minha mãe descansar. Ela tem estado muito cansada, mas eu não entendo porque.... Eu sei que ocupo bastante tempo. Por outro lado, eu durmo muito, somando todas as horas do dia e da noite. Então eu fico pensando: por que ela não dorme sempre que eu durmo? Se ela pudesse fazer meu horário, aposto que não iria ficar tão cansada!

Sabe que hoje minha mãe e meu pai até comemoraram??! É que eu fui dormir às 20h e só acordei às 04h. Eu ainda não entendo bem esses números que marcam o tempo. Sei que agora preciso mamar menos vezes ao dia. Tenho menos fome porque a cada mamada consigo mamar mais. E também eu já entendi que minha mãe está ao meu lado a qualquer hora da noite. Ela não vai embora. Por isso posso ficar em paz.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

SEMANA 10 - Cólica existe?

Tem várias vezes quando eu choro que alguém diz: é cólica! Daí, começam a fazer massagem na minha barriga e eu páro de chorar porque é tão gostoso.....dizem que a massagem melhora a tal da cólica, que eu nem sei o que é, mas pra mim o que essa massagem faz é carinho - e carinho sempre é bom.

Desconfio que esse negócio de cólica não existe - eu, pelo menos, nunca entendi o que é! O que eu sei que existe e entendo muito bem como é sentir é medo - esse sim é que me faz chorar. Aquilo que falei sobre quando a noite chega, o medo do abandono... 


Talvez se diga que é cólica porque as pessoas não lembram o que é sentir esse medo e parece que a tal da cólica dá também em gente grande - é mais fácil mesmo lidar com coisas que sabemos explicar do que com o que não conhecemos.....o desconhecido dá medo....e medo eu conheço......Chato isso dos adultos não terem muita memória...
 

A outra coisa é que descobri que estamos no verão.  O verão é uma parte do ano (vocês lembram que eles contam os anos?). É um tempo de calor. E aqui onde eu nasci faz muito calor.

Então nós mudamos de casa e fomos para um lugar que eu nunca tinha visto antes - chamaram de praia. Meu pai e minha mãe me mostraram o MAR.
 

É impressionante. Eu lembrava - do curso de preparação - que na Terra tem muita água. Mas eu não sabia que toda essa água era tão bonita. O mar é incrível porque parece que não termina nunca... e nesse planeta onde tudo termina é muito bom ver o mar!

Mas minha mãe não me levou pra dentro do mar. Então eu chorei muito. E olha que dessa vez eu não queria peito, eu queria o MAR! Ela disse para o meu pai que não posso entrar porque só tenho 2 meses. Tem um monte de regra que não dá pra entender....
 

Mas mesmo sem poder entrar, eles me levam para perto do mar e eu adoro - gosto de sentir o vento no meu rosto.  
 

Agora tenho que ir porque é hora de encontrar o MAR!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

SEMANA 09 - O MEU PAI

Essa semana eu comecei a gostar muito do moço chamado Pai.

Entendi que cada bebê tem o seu pai e ele é o MEU PAI. Ele mora com a gente e todo mundo fala que sou a cara dele. Ele diz que isso deve ser parte da programação biológica: os bebês nascem com a cara do pai para que o pai tenha certeza que o filho é dele.

Entendi também que ele gosta muito de mim. E eu comecei a gostar dele também. Mas acho que o meu papai não gosta tanto de mim como a minha mamãe gosta, porque ela passa muito mais tempo comigo do que ele.

Será que TEMPO = AMOR?

Isso eu não sei. Tomara que não... porque minha mãe - ultimamente - passa menos tempo comigo do que quando eu nasci. Ela diz para o meu pai que está mais cansada. E eu sei que ela está mais cansada. Será que ela me ama menos?

Mas acho que tem também outro motivo para eu passar mais tempo com o meu pai. É o seguinte: quando o dia termina e chega a noite eu choro muito. Eu faço isso porque tenho medo e quero ter certeza que minha mãe não vai me deixar sozinha. Mas - apesar dela já me conhecer há dois meses - ainda se esquece que em 99% das vezes que eu choro só quero ficar no peito dela. E não é pra mamar, é só pra me sentir protegida.

E justo quando eu começo a chorar minha mãe fica sem saber o que fazer... Então ela me entrega para o meu pai que começa a andar pela casa de um lado pro outro. E como mesmo assim eu não paro de chorar ele inventou de dançar comigo.

Eu gostei dessa dança e gostei do meu pai. E assim eu paro de chorar. Ele fala pouco – bem menos que a minha mãe – mas dança bastante.
  

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Semana 7 - O ANO NOVO E OS NOVOS SONHOS

Hoje toda a família está reunida de novo, como aconteceu no Natal, naquele dia em que tivemos Papai Noel e o Menino Jesus.

Mas dessa vez é diferente: estão todos juntos para falar sobre o que sonham e desejam para o próximo ano. Minha mãe me explicou sobre isso de próximo ano.

Aliás, essa é uma novidade importante: minha mãe agora tem mania de me explicar tudo porque acha importante eu aprender sobre esse mundo. Eu gosto quando ela explica porque esse mundo físico não é fácil pra gente.

O próximo ano se chama 2013 e esse que terminou foi 2012. Então eu entendi o seguinte: os adultos contam os anos. Mas não entendi de onde vem essa conta. Sei que tenho um mês. E na conta dos adultos já se passaram 2012 anos. Mas quando eles começaram a contar? E por que?

Isso eu não sei responder. Por isso vou mudar de assunto e contar pra vocês o que achei mais incrível: quando muda esse número do ano, os adultos sentem uma grande vontade de mudar.

Estão todos falando sobre seus novos planos e sobre o que desejam deixar para trás. Falam em recomeçar. Alguns escrevem listas. Outros criam grandes sonhos e guardam segredo,  não contam para ninguém. Mas quase todos desejam amor, sentem esperança e vontade de recomeçar.

Eu pensava que todo dia se podia recomeçar porque todo dia - aqui na Terra - termina com a chegada da noite. E como amanhã é sempre depois da noite - é só pensar que amanhã vai ser diferente.

Esperança é aquilo que trazemos quando a gente vem pra esse mundo. A certeza de que estamos melhorando.

E amor – no nosso mundo – é proximidade. Essa proximidade é rara aqui nesse mundo, mas é bem normal aí, vocês sabem. Aquela coisa de se sentir misturado ao outro, se sentir um só.  Eu acho que os adultos desejam o amor porque a solidão parece ser comum por aqui. E solidão – essa que os adultos sentem - é falta de proximidade. Eles esquecem que precisam estar mais perto uns dos outros. Mas eu ainda me lembro e por isso gosto tanto de ficar no colo da minha mãe.

Então meu desejo para 2013 é esse: que os adultos se lembrem de como é bom se sentir um só.