sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CAPÍTULO 43 - O Casamento

A amiga da mamãe chegou em casa quando eu estava indo dormir. Eu chorei e não quis dormir, porque queria ficar com elas. Então, pra não me deixar triste, minha mãe deixou eu dormir no colo dela. Eu fingi que estava dormindo e fiquei ouvindo a conversa toda!

A amiga da mamãe veio contar que ia se separar do marido. Separar é quando a pessoa decide terminar o casamento.O duro pra entender essa conversa é que nem sei se já entendo o que é casamento. Parece que é quando alguém decide ficar com uma pessoa só, e não com várias outras. Esse é o casamento. Deve ser bem difícil escolher quem vai ser essa pessoa, porque tem um montão de gente nesse mundo. Eu fiquei com muitas dúvidas... Será que um homem também pode escolher ficar com um homem? E uma mulher também pode escolher ficar com uma mulher? E por que alguém decide ficar com uma pessoa só? Como escolhe essa pessoa ao invés de todas as outras?

Então me lembrei no nosso curso de preparação para vir para a Terra. Existe um sentimento que os adultos têm, chamado paixão. Quando você se apaixona, quer ficar com aquela pessoa o tempo inteiro, para sempre. Acho que é parecido com o que eu sinto pela mamãe, porque eu quero ficar com ela o tempo inteiro, e para sempre. E não tem o que ela faça de errado, o quanto eu possa me sentir abandonada por ela, eu ainda a quero o tempo inteiro, para sempre.

Só que tem um coisa estranha quando se trata dos adultos: a paixão parece que acaba e eles se separam. E tem situações que só um sente isso e o outro não – daí esse outro vai embora e você fica triste. A notícia boa é que tem uns casos que a paixão não acaba, mas se transforma em outro sentimento: o amor. Parece que é aí que as pessoas têm vontade de fazer o tal do casamento.

Eu entendi pela conversa delas que os adultos vivem muitas paixões; e até mesmo paixões que viram amor. E não significa que se casam todas as vezes que isso acontece. Não ficou muito claro quando eles decidem isso de casar. Mas ficou claro que tem gente que sente coisas de todos os tipos. Tem quem se apaixona sempre. E sofre muito. Tem quem não se apaixona nunca. E também sofre. Tem quem se apaixona sempre e muda de paixão como quem muda de roupa. Esse elas disseram que não sofre. Será? Deve ser difícil não ver o tal do amor aparecer.

A amiga da mamãe falou que ela gosta muito do marido, é muito amiga dele, ,mas que não quer mais ser casada com ele. Mas aí bagunçou tudo pra mim - então por que  ela está indo embora do casamento? E o que é o tal do amor?

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

CAPÍTULO 42 - Meus presentes de aniversário

Essa semana eu ganhei muitos presentes de aniversário! Meus pais me deram dois livros: um para bebês e um de história escrito em espanhol. Minha mãe me disse que comprou os livros em um Shopping Center dos livros chamado Bienal, que é o único Shopping no qual ela verdadeiramente se diverte.

Minha tia Eleonora também me deu um livro, mas adicionou um tênis cor de rosa. Ela disse que escolheu os dois para que um (o livro) cuidasse do meu lado “intelectual” e o rosa do tênis, do meu lado “feminino”. Fiquei um pouco confusa com todos esses termos... será que tudo no mundo dos adultos é assim tão definido? Se quando brincar com o livro sou “intelectual” e quando vestir o rosa sou “feminino”? Deve ser isso....e se só usar o rosa não posso ser intelectual?? E se só brincar com o livro não sou “feminino”? .

Então veio o presente que me causou a reação mais imediata: o baldinho de areia que ganhei de outra tia. Lembrei de todos os dias que passeio na pracinha e pensei como aquele  baldinho com pá me seria muito útil! Minha tia se encheu de orgulho e disse pra minha mãe com um pouco de desdém: “Claro que preferiu o meu presente! Com um ano, que criança iria preferir um livro? Elas querem brincar!

Teve também um amigo da minha mãe que veio com um presente desconhecido: uma Barbie! Ele me explicou que a Barbie é a boneca mais famosa aqui na Terra e que estava me dando porque sabia que meus pais não teriam pensado em me dar uma Barbie! Explicou que é gostoso ter o que chamou de “objetos de desejo coletivo”. Fiquei pensando nisso...por que será que meus pais não pensaram em me dar uma boneca pra eu ter um “objeto de desejo coletivo”??

A verdade é que gostei de tudo: da minha Barbie, do meu tênis cor de rosa, do meu balde com pá e de todos os meus livros! Assim posso ser “intelectual” e “feminino”, brincar e, de quebra, ter um “objeto de desejo coletivo” – seja lá o que isso significar!

E pra terminar meu dia da melhor maneira possível, minha mãe me contou como tudo aconteceu desde o dia da minha chegada na Terra, que é o dia que ela considera a minha chegada no mundo. Os adultos não sabem, mas a nossa chegada é bem anterior ao dia do parto. Mas isso fica para outro dia!


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

CAPÍTULO 41 - Meu aniversário de 1 ano!

Hoje eu faço um ano! Isso quer dizer que faz um ano – no tempo que os adultos contam na Terra – que eu saí da barriga da minha mãe.

Eu adorei o bolo que o meu pai fez: um queijo branco rodeado de papinha de fruta! Meus pais dizem que ainda não posso comer bolo de verdade porque tem açúcar.... eles acham muito importante não comer açúcar porque açúcar baixa a imunidade. Sei lá eu o que é imunidade, mas certo ou errado, sei que não como o tal do açúcar por enquanto. O lado divertido dessa regra (mais uma dos adultos!) é que com certeza esse será meu único bolo de queijo nessa vida!

Minha mãe estava muito preocupada porque não ia passar o aniversário comigo. Queria muito poder fazê-la entender que essa coisa de aniversário é uma invenção que nós, bebês, só vamos entender mais tarde. A gente ainda não liga para essas invenções culturais. Somos meio “aculturados”.

Pois bem. Ela tinha que trabalhar. Então, pra tentar resolver aquele sentimento muito ruim de que não estaria comigo na tal data tão importante, achou por bem que o melhor seria me levar com ela para um lugar barulhento, frio e com um monte de gente estressada (ela chama de estúdio de gravação). Graças a Deus minha tia avó resolveu me salvar dessa roubada. Ela convenceu minha mãe que seria MUITO mais divertido se, ao invés de ir para o trabalho dela, fosse para um programa criado especialmente para mim! Neste momento entendi que minha tia avó era uma senhora bastante sensata.

Minha mãe devidamente convencida, fui com minha tia avó a um lugar chamado Shopping Center. Lugar enorme, cheio de luzes, escadas que sobem e descem sozinhas, comidas de todos os tipos e um monte de gente carregando sacolas, todos com uma animação incrível!  Pelo que eu entendi, as pessoas vão nesses lugares para comprar coisas – de todos os tipos.

Comprar é algo que vocês devem se lembrar do curso de preparação para vir para a Terra, né? Lá nos explicaram que aqui nesse mundo tudo o que é produzido pelo homem - no mundo físico - pode ser comprado. Eles compram a comida, as roupas, as casas, os brinquedos... tomara que as pracinhas também possam ser compradas, porque eu adoraria comprar uma pra mim!

Mas o que me deixou mais fascinada foram as escadas que se mexem sozinhas. Meu deslumbramento era tão grande que minha tia avó me chamou de índia. Concluí  que ser índia tem a ver com achar as coisas dos homens da cidade muito fascinantes (a tal da escada rolante é dos homens da cidade). Fiquei pensando se as índias não são bebês que nunca se acostumaram com essas doideiras criadas pelos homens da cidade....vou pesquisar isso mais tarde.





sexta-feira, 11 de outubro de 2013

CAPÍTULO 40 - O Trabalho do Papai

Meu pai anda meio triste... pelo que eu entendi é porque está sem trabalho. Parece que trabalho é algo muito importante na vida dos adultos, porque passam muito tempo falando disso.

Mamãe faz de tudo para eu não perceber quando eles estão tristes, mas isso é impossível. Eu percebo mesmo. E então faço de tudo para alegrá-los. Não sei se adianta, mas a verdade é que eles se distraem. Acho que aí está o segredo que os adultos se esquecem: que a alegria pode estar em coisas descomplicadas.

Voltando para o motivo da tristeza do meu pai, fico confusa.

Ouvi na televisão que em um lugar chamado Estados Unidos, 10% das pessoas que moram lá estão desempregadas. Não sei nada de Estados Unidos, mas já percebi que é um lugar importante, porque as pessoas sempre falam desse canto do mundo com muita atenção. Também não entendo o que é 10%, mas já percebi que é uma medida que significa muita coisa, porque a mamãe tem mania de falar que está 10% acima do peso - e diz isso com uma cara de que significa bastante!

Pois bem: se o  trabalho é tão fundamental assim, como pode não existir pra todo mundo? Nem mesmo no tal dos Estados Unidos!! Acho que vou ter que crescer pra matar essa xarada!

Nessas horas, eu queria muito já saber falar. Porque adoraria poder dizer pro meu pai que o trabalho que ele exerce lá em casa é o mais bem feito do mundo: ele pratica o cargo de pai com a mais profunda maestria!!! Se ele pudesse compreender isso  - nessa hora que parece ser tão difícil - talvez eu o ajudasse a compreender que a importância das pessoas nunca está em um único lugar...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

CAPÍTULO 39 - A primeira febre

Esta noite, pela primeira vez, tive febre. Mamãe ficou logo apavorada. Mas papai não. Acho que ele percebeu que não era nada, quer dizer, era apenas alguma virose sem maior importância. E conseguiu convencê-la a não irmos para o hospital. 

Fiquei feliz por meu pai ter conseguido convencer minha mãe a me deixar em casa. Imagina você estar com 39,5 de febre, mole, com frio, se sentindo mal e, ao invés de ficar na cama dos pais, quentinha e protegida, ser levada para um hospital? Deve ser horrível...

Mas minha alegria não demorou muito. Sem perguntar para ninguém o que fazer quando o bebê de 09 meses está com 39,5 de febre, resolveram me molhar! Que desastre... eu chorei bem alto, mas não serviu para muita coisa: eles acharam que meu choro era de frio e acabaram me levando pra dentro da pia mesmo assim... eles definitivamente não me entendem!

Na manhã seguinte, fui salva pela pediatra! Ela foi logo dizendo: “Banho frio é o último recurso – nunca o primeiro!” Obrigada querida pediatra; outro banho frio e eu ficaria realmente acabada!

Com todo o ocorrido, ganhei o dia em casa. Foi a primeira vez que faltei na escola. Mas achei um exagero da mamãe, porque eu já estava bem, sem febre e pronta para brincar com os meus amigos. As mães são assim mesmo, muito preocupadas. 

Quando Papai chegou, logo perguntou: “Margarida não foi pra creche?” E mamãe, com aquela voz decidida, própria da maternidade quando confrontada com a paternidade, respondeu com certa arrogância: “Claro que não, teve 39,5 de manhã.” 

Eu troquei um olhar de cumplicidade com o papai, e ele entendeu que era melhor assim, deixar a mamãe tranquila, com sua certeza de que fez o que é bom pra mim. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

SEMANA 38 - A comida dos meus pais

Percebi que enquanto estou na minha cadeirinha comendo a comida colorida que eles chamam de papinha, no prato do meu pai e da minha mãe tem uma comida diferente! E parece ser muuuuuuito melhor!

Como eles não entendem o que eu falo, mergulhei direto em cima do prato do meu pai. 

E, então, surgiu uma grande dúvida: por que eles me dão essa comida sem graça e comem uma comida muito melhor?

Eu sei que ainda não tenho todos os dentes, mas também sei que a maioria das coisas que eles comem eu poderia comer sem dentes mesmo.

Será que existem outros empecilhos para comer comida de adulto além de não ter dentes?? 

Eles poderiam, ao menos, me explicar...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

SEMANA 37 - O tempo da minha mãe

Eu não gosto de me separar da minha mãe. Não me importo de ir para a escola. Mas não gosto quando chego em casa e ela ainda não chegou. 

Ou, pior ainda, quando ela está em casa, mas não fica comigo!

Também não gosto de celular e nem de computador. Gosto quando ela fica COMIGO, e presta atenção em MIM. 

Por que será que ela não pode – quando eu estou em casa – prestar atenção SÓ em mim?
Será que estou esperando demais?

Será que todos os adultos são muito ocupados?
Será que os adultos são assim tão ocupados porque querem, ou já nem percebem que criam suas ocupações?